Cuidado com a direita

Por quais produtos ou serviços você passaria horas numa fila para consumi-los? Veja bem, não me refiro aos produtos e serviços pelos quais alguém perde horas e mais horas da vida devido a má qualidade como, por exemplo, os do nosso transporte aéreo e da obtenção de passaporte. E, sim, àqueles que você está tão ansioso em consumi-los que não aguenta esperar.

Na Inglaterra, o lançamento do novo livro Hary Potter fez com que uma multidão de fãs esperasse nas filas horas antes das livrarias abrirem para comprar os primeiros exemplares. O mesmo fenômeno ocorreu dias antes, nos EUA, em frente às lojas da Apple por causa do lançamento do iPhone. Kevin Roberts, CEO mundial da Saatchi & Saatchi, classificou as marcas que conseguem mobilizar seus clientes a tal ponto de Lovemarks. Lovemarks são aquelas empresas, serviços ou produtos que você não só precisa ou gosta, mas com os quais realmente se identifica e se encanta por eles. A experiência de uso da marca é tão boa que cria um vínculo forte, a ponto de até perdoar pequenas falhas ou defeitos.

Aqui no Brasil, Joãozinho, mesmo sem saber, também tem a sua Lovemark. Ele aceita peder uma hora e meia de sua vida na fila esperando a sua vez de comprar ingresso. Ele nem ligou porque só havia um guichê funcionando um dia antes do jogo. Joãozinho compreende não poder beber cerveja no estádio para tentar diminuir a violência nas imediações. Ele também não se importou em machucar a perna na hora da comemoração do gol porque havia muito pouco espaço entre as cadeiras no Mineirão. Joãozinho só não consegue entender porque diabos o técnico do Cruzeiro não substituiu o lateral direito que não estava atacando e muito menos defendendo. "Séra que ele não viu que o São Paulo só estava atacando por lá?".

Cara de Tiozão

O mundo está em constante mutação. Conseguir acompanhá-la é uma questão de sobrevivência. Quem estudou biologia deve se lembrar de Darwin e sua tese sobre seleção natural. Só os organismos que se adaptam melhor ao ambiente sobrevivem.

Para as marcas não é diferente. Não acompanhar as rotações do mundo é correr um sério risco de se tornarem velhas, ou pior, obsoletas. É como ter uma banda de Rock aos 64 anos, soa desafinado.

Mas até mesmo um senhor que completa hoje 64 anos de idade pode correr na mesma velocidade da terra. Não só acompanhar as mudanças como lucrar (e muito) com elas, mesmo que desafine de vez em quando. Os Rolling Stones souberam fazer isso muito bem. Eles acabaram de superar o U2 em lucro de uma só turnê. Não é só pelas novas músicas: a banda inglesa se reiventou e adaptou seus antigos sucessos para os ouvidos de hoje. Se você tem dúvidas, pegue a gravação original de "Satisfaction" e compare-a com uma atual (como a do disco ao vivo Flashpoint). É a mesma música, mas um outro ritmo. Acompanhar sempre o novo ritmo é a chave para fazer sucesso tanto na pista de dança como no mercado. Mesmo que você tenha cara de Tiozão. Parabéns Mick Jagger.

Comercial sim; e daí?

Qual é o preço do sucesso? É muito interessante perceber como nós brasileiros menosprezamos nossos conterrâneos que chegam ao topo. É como se o sucesso fosse um crime. As pessoas bem sucedidas são, às vezes, vistas com muita desconfiaça. Despejamos rótulos preconceituosos nelas apenas porque "chegaram lá". Claro que algumas pessoas venceram por meios ilícitos. Mas, muitas são criticadas apenas por venderem bem.

"Paulo Coelho não escreve bem. Ele é um escritor comercial." Seu crime: ser o autor brasileiro que mais vendeu livros no mundo em toda história. Sem falar nos prêmios literários que recebeu ao longo da carreira. Não discuto gosto, nem estilo. Claro que alguém pode não gostar dos livros do Paulo. Temos todo direito de não gostarmos de seus livros, mesmo sem termos, ao menos, lido algum. Mas não dá para negar a qualidade do cara. Para vender tantos livros, em tantas línguas e culturas diferentes, ele teria que ser no mínimo bom, mágico ou neste caso, os dois.

Comercial: alguns falam desta palavra de maneira pejorativa. Qual é o problema em vender muito? Qual é o problema em oferecer aquilo que o consumidor quer? Eu acredito que o problema é justamente oferecer o que ele não quer. Será que na literatura, na música e em outros segmentos "puros" não podem haver profissionais que se orientem pelo mercado?

Você se sentiria mal se também conseguisse vender tanto?

Quem abriria mão de 30 segundos?

Um dos maiores empecilhos em nossa vida é o custo do que queremos. Tudo tem seu preço e, geralmente, ele é maior do que gostaríamos de pagar. No trabalho não é diferente. Joãozinho ficava intrigado quando reuniões de apresentação interna de campanha acabavam em discussão entre o departamento de mídia e o de criação a respeito de verba. “Valeria a pena tirar verba da mídia para a produção desta foto?”, perguntava a mídia indignada. “E se diminuíssemos o número de modelos?”, sugeria ela maliciosamente.

Joãozinho replicava que um dos maiores desafios da publicidade é ser percebida dentro deste mar de superexposição de informações em que vivemos. Com tanta informação disponível por aí, as pessoas tedem a se tornar mais seletivas em relação ao que consomem. Concentrar a verba em mídia é uma tentativa válida de se atravessar este congestionamento de informação através da insistência. Mas, parte da comunicação poderá ser atropelada no meio do caminho se a mensagem não for mais atrativa do que as demais. Para diminuir essa dispersão é importânte investir em produção de peças criativas que realmente despertem a atenção do consumidor. Afinal de contas, a questão não é quantas pessoas serão expostas ao anúncio e sim quantas, de fato, abrirão mão de 30 segundos de suas vidas para prestar atenção nele.

Valor da Marca


Quanto você pagaria por um quadro que tem um rasgo vertical bem no meio da tela e que nem ao menos foi pintado? A princípio, nada. Esse quadro à primeira vista, soa como um material danificado e sem valor. Mas, reflita, um pouquinho. Se o rasgo fosse proposital e esteticamente bonito? Se transmitisse um gesto ou uma emoção? Se houvesse uma história por traz dele? E se eu fosse autor, ou se fosse o Lúcio Fontana? Isto poderia alterar o seu valor?

Tudo depende de como olhamos para o quadro. Se fixarmos somente no rasgo, será apenas um buraco numa tela, uma comodite. Mas, se percebêssemos a força do gesto, se nos envolvêssemos com sua história, e se descubríssimos o protesto contra tradição artística ocidental através do buraco na tela, distiguiríamos esse rasgo de outros.

Lúcio Fontana conseguiu fazer com que um estrago aparente se transformasse em uma obra de arte. Ele não só foi pioneiro, mas diferenciou-se dos demais e criou um novo estilo de arte (Espacialismo). Fontana não vendeu apenas um quadro rasgado, ele vendeu um novo ponto de vista.

Se alguém ainda tem dúvida sobre a importância de um conceito por trás de um objeto, saiba que esta obra, “Conceito espacial - Espera “ está exposta no Tate Moderm, Londres (www.tate.org.uk para quem não for passar por lá nestes dias). Já a minha tela rasgada, bem, achei melhor trabalhar apenas sobre encomenda. Alguém aí se interessa?

Sindrome do Patinho Feio

Quando criança, lemos a história do “Patinho Feio” sem perceber de imediato a importância da mensagem transmitida pelo livro e como seria melhor a nossa vida se conseguíssemos utilizá-la no nosso dia-a-dia desde cedo. Um dia, pode ter certeza, todos nós faremos ou papel do pato ou do cisne na história.

No atendimento ao cliente, um erro de avaliação pode ser fatal. Joãozinho tinha acabado de sair do clube com sua mulher e lembrou-se que ainda não tinha comprado o presente de aniversário de seu amigo. A festa seria em poucas horas, e eles, não querendo perder tempo, foram direto para o shopping no mesmo bairro. Eles entraram numa loja em que já eram clientes há algum tempo para comprar uma camisa. Sem dar muita importância à falta de assédio das atendentes, escolheram o presente e aproveitaram os preços atrativos para comprar outra camisa e uma calça para ele. Feitas as escolhas, foram atrás das atendentes que conversavam em um dos cantos da loja. 'Boa tarde, vocês têm esta camisa “P”?' Depois de alguns segundos de silêncio constragedor, e de uma pequena discursão de quem iria atendê-los, uma delas desabafa: 'Fica sendo minha vez, então.' Joãozinho fica com a impressão de estar incomodando, mas aguarda a vendedora ir até o estoque.

Tudo certo, e a vedendora pergunta a forma de pagamento. 'Cartão', respondeu Joazinho tirando-o da carteira. Abrindo o primeiro sorriso desde então, a simpática vendedora pega o cartão e, virando-se para as colegas, faz uma dancinha estilo “pizza da ex-deputada”. 'Meninas, olhem só'. A simpática vendedora vira-se para o sr. João e pergunta se ele não gostaria de fazer um cadastro na loja. Joazinho agradece e recusa educadamente com uma desculpa qualquer. Pega suas compras e sai com um sorriso constrangido por se sentir inferior ao seu pequeno Amex de plástico.